O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. Não à toa, a luta por direitos desse grupo social é tão forte por aqui – também é em São Paulo onde acontece a maior Parada do Orgulho LGBTQIA+ do mundo. Ainda assim, os casos são dramáticos e histórias das mais tristes aparecem nos jornais.
Uma das referências para o público, Pepita é uma das artistas de maior referência no país. Em entrevista ao Famosando, a cantora falou sobre a luta por direitos e diversidade. Além disso, também comenta a relação com a família e seu novo momento como mãe. Infelizmente, o tema da violência contra mulheres trans ainda é tema das conversas, principalmente, porque precisa ser um alerta para toda a sociedade.

Durante a conversa, Pepita destaca quão difícil é lidar com as críticas, mas também com os ataques constantes. Contudo, segue lutando para que seu lugar seja sempre reconhecido. Ao falar sobre os ataques que sofre dentro e fora das redes sociais, faz uma revelação difícil de engolir:
“É mais bonito me achincalhar? É muito surreal. Hoje eu posso estar com meu melhor vestido, eu sempre estou com colete a prova de bola, porque a gente nunca sei de onde vem o próximo tiro”
FAMÍLIA
Mãe de Lucca, de dois anos, ela lembra como surgiu o plano de ser mãe, ainda quando era criança. “Eu sempre quis ser mãe, desde a época de escola. Sendo uma travesti, a gente sofre muito por amor. Eu achava que, se fosse mãe, eu teria o amor mais puro que já recebi na minha vida. Eu acreditei e estou dando o melhor”, conta.
Além disso, reforça que sua postura como mãe sempre será a de defender seus direitos e o das outras mães travestis e transexuais. “Eu recebo crítica todo dia. Eu sou uma mulher de 40 anos que sempre resisti muito. Isso para mim não tem preço, quem quiser pode falar de mim. Só eu sei quem sou e o que faço para ser mãe”, declara.

Em seguida, Pepita declara que não vai abrir mãe de seus direitos e, muito menos, deixar que a insultem ou tentem a diminuir como mulher. Falando sério, mas sem perder o bom humor, a modelo ressalta:
“Eu vou lutar, discutir para as pessoas entenderem que uma travesti pode ser mãe, sim. A briga está só começando. Eu não gasto dinheiro com uma bolsa de luxo, mas gasto com um bom advogado”.
QUEM AJUDA?
Quem é mãe sabe quão importante é ter com quem dividir as obrigações com as crianças. Avô, avó ou mesmo vizinhos podem ser pessoas importantíssimas para compartilhar o trabalho. No caso de Pepita não é diferente, ainda assim, até nesse momento ela precisou enfrentar obstáculos por ser trans.
“Quando as pessoas viam que eu era travesti, elas não queriam trabalhar comigo. Uma vez eu entrevistei uma mulher, estava tudo certo com ela. Chegou no dia de começar, ela me ligou e disse: ‘Eu conversei com meu pastor e ele disse que eu sou um homem que quer ser mulher’. As palavras dela ficaram na minha cabeça e quando eu penso em fraquejar, eu ouço a voz dessa mulher”, revelou, citando o absurdo.
Pepita lembra quais foram as ferramentas que precisou criar para cuidar de Lucca. Por enquanto, ela e Kayque, seu marido, dividem os cuidados com o filho. A cantora destaca que esse tipo de apoio pode não parecer importante para muitas pessoas, mas é fundamental na educação de uma criança.
“Não tinha quem ficasse com meu filho, mas eu não podia parar de trabalhar. Tinha que dar um jeito. Eu ia dar meu jeito. Se tivesse que levar ele para o trabalho, faria isso”, afirma.
FORA DE CASA
O assunto não se resume à maternidade, não. Infelizmente, pessoas trans também sofrem com a falta da família, porque não são aceitas pela família e, em muitos casos, expulsas de suas próprias casas. Para Pepita, falar em “rede de apoio” de qualquer ponto de vista, é um tema delicado para a população.
“A rede de apoio para a gente não existe e nunca vai existir. O assunto ‘rede de apoio’. É muito delicado e muito triste. Para algumas pessoas pode ser mimimi, mas isso nunca vai ser”, destaca.
